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Tag Archives: Histórias & Contos

Conheça O Resumo dos Relatórios do Experimento ‘Fábulas Mortas’:

Olá, senhores. Meu nome é Akheofis Tutthokh. Sou um Ekimmu – um ser da noite. Um vampiro. Eu fui criado por Alazzos, meu mestre e senhor, o qual me incubiu de receber e ser o anfitrião de seus convidados em nosso mundo, o qual chamamos carinhosamente de Terra. Eles foram conjurados pelos poderes de meu mestre de seu mundo, chamado Arcádia. Esta conjuração foi feita unicamente para fins de estudo do comportamento destas raças em nosso Plano, em vista que Alazzos já reconheceu, em seus 352 anos sobre o mundo, duas dessas criaturas e uma delas – cuja qual despertou o interesse deste por esse estudo – estava “vampirizada”. Desde então, Alazzos começou á procurar rituais para conjurar tais seres, até que conseguiu o ritual correto.

O ritual foi um sucesso, como o previsto. As criaturas conjuradas vieram em número de três: um ser humanóide, de pele branca, esguio, de orelhas pontudas, que poderia ser categorizado – e será feito de agora em diante nesse estudo – como um “elfo”; o segundo era a antítese do primeiro, um ser baixo, feio, de pele verde, orelhas pontiagudas, olhos rubros, dentes afiados e rosto rude, o qual categorizamos como um “goblin”; e o terceiro era um ser bastante diminuto, de 26cm, humanóide, de traços raciais semelhantes àos do elfo, mas com um par de antenas esverdeadas, como as de um inseto, e seis pares de asas insetóides. Nós categorizamos a última criatura como um “pixie”. Inicialmente, o contato com essas criaturas foi estranho, mas não demais; Alazzos conhecia um pouco do mundo e da natureza desses seres. Eles estavam assustados (o goblin estava especialmente irritadiço), mas meu mestre pôde comunicar-se com eles utilizando-se de meios mágicos. Demoramos dois meses para aprender a “língua feérica”.

É interessante como passamos, com os anos, a descobrir fatos interessantes sobre essas criaturas. Por exemplo, elas eram especialmente ingênuas sobre as nuances do mundo: todos acreditaram piamente em meu mestre quando este disse que a conjuração deles foi um acidente mágico. Normalmente, ele alegou também que não conhecia meios para que estes retornassem, mas “deu sua palavra” que iria pesquisar para tal, e seria prudente que eles se mantivessem por perto – e assim meu mestre ganhou seus experimentos interdimensionais. Outro fato interessante sobre eles é que, com o passar dos anos, descobrimos que essas criaturas possuem uma longevidade não-natural.

2067. Dois anos se passaram com os experimentos por perto. O elfo, antes sempre feliz e irreverente, adquiriu um certo… silêncio. Já notei ele passar horas sozinho. Também tornou-se solitário (inicialmente ele desejou conhecer nosso mundo, mas depois de seis viajens pelo ‘mundo exterior’, ele decidiu que não queria mais conhecer nada). Acredito que ele percebeu que estamos enganando-o, e nunca os levaremos de volta para seu lar. Ele, porém, nunca disse uma palavra sobre o assunto – seu olhar, porém, falava por si. O goblin foi um tanto diferente: ele não só gostou de conhecer nosso mundo, como se ambientou bastante facilmente, e aprimorou suas técnicas de disfarce, fingindo ser anão, ou ter alguma deformidade física em momentos muito inoportunos. O pixie parece ser o que menos se encaixa por seu tamanho, e vive a maior parte do tempo observando as pessoas. tentei algumas sessões psiquiátricas com ele, mas ele recusa-se á falar dos problemas que lhe afligem. Um acidente infeliz também ocorreu: o elfo foi estuprado. Ocorreu um incidente de comunicação entre o elfo e um cyberpunk em sua primeira saída sozinho pela cidade, e este foi atacado por um gigolô, cujo qual acreditava que o elfo estava vendendo-se para o cyberpunk na área de atuação e controle da prostituição deste. O gigolô o estuprou e o espancou. Passamos meses tratando sua psiquê. O evento serviu para modificar ainda mais a psiquê da criatura.

2077. Dez anos se passaram. Eu mesmo continuo aqui, em meus próprios estudos, e continuando a experiência de meu mestre Alazzos. Continuamente, como sempre fiz, envio relatórios para este em sua mansão na Inglaterra. O elfo adquiriu certos costumes noturnos, e passou á misturar-se àos humanos jovens. Parece que o excesso de alegria destes alimenta o espírito da criatura feérica, deixando-o mais próximo de seu lar. O goblin regrediu; antigamente, esperto e alegre (embora um tanto sanguinolento e sádico), agora passou à exibir alguns graus de tristeza. Eu tento remediar isso medicando-lhe com antidepressivos. O pixie continua o mesmo, embora tenha tornado-se mais violento. Recentemente ele perdeu o braço após ter sido atacado por um gato de rua.

2127. Cinqüenta anos se passaram. Continuo os estudos de meu mestre, enviando relatórios sagradamente. Eu mesmo comecei meus próprios estudos. A raça feérica parece impressionante e o trabalho para vidas inteiras. Não parece haver fim para a infinidade de conhecimentos que pode-se extrair desses seres. Encontrei muitos tomos falando sobre eles, mas meu – digo, nosso – estudo parece único em todas as eras. Encontrei também informações sobre os vampiros chamados de “Arcádios”, que são exatamente humanos que foram vampirizados por criaturas ou outros vampiros que possuem o vampirismo e o sangue feérico em um mesmo corpo, e passam essa “mistura” adiante, causando alterações no corpo do humano vampirizado por último, além das mudanças para seu status de morto vivo. Essa condição deu à parecer que os seres de Arcádia conseguem suportar bem melhor o peso da “vida” na Terra – a situação de morto-vivo parece influenciar na mente do ser feérico, e parece eliminar – ou diminuir bastante – a necessidade de um “mundo mágico”. O elfo passou à demonstrar sinais paranóides e compulsivos, como lavar as mãos e trancar a porta de seu aposento, mantendo-se lá por horas à fio. Passou também à consumir cocaína, crack e LSD com freqüência. Acredito que ele já matou e roubou também (a primeira vez, creio que foi quando este chorou por uma noite inteira). O goblin sumiu há 5 anos atrás, e o encontrei dois meses depois num esgoto. Aparentemente ele passou à morar com mendigos (creio que imitando os costumes de seu povo em sua terra natal), e dormir nos esgotos. Seu corpo apresentou sinais avançados de varíola. O pixie morreu de depressão (os medicamentos não foram suficientes).

2132. Creio que após cinqüenta e cinco anos de estudos, esse experimento está concluído. O elfo (cujo qual não direi, nem disse, seu nome em todos os anos de testes, pois prefiro mantê-lo aqui como uma cobaia e objeto de experimentação) fugiu. Ele deixou uma longa carta despedindo-se de mim. Um tanto melodramática… mas isso parece ser natural de sua raça. Ela diz que ele partiu em busca de uma saída de nosso mundo e um retorno para o seu. Algo me diz que ele nunca encontrará…

Dito isso em minhas últimas palavras sobre os meus relatórios, faço oficial o término de minha vigília e a conclusão de que os seres do Plano de Arcádia não conseguem sobreviver em nosso mundo por muito tempo, pois aqui não é o lugar para seres de tamanho espírito, ingenuidade e magia. O mundo consumirá suas mentes e definhará seus espíritos até que eles morram.

Akheofis Tutthokh, Ekimmu

por Hatalibio

por Hatalibio

Cria de Alazzos
Cria de Efeu
Cria de Enkil
Cria de Akasha

“Para sermos felizes até certo ponto é preciso que tenhamos sofrido até o mesmo ponto”
Edgar Allan Poe

É esta a frase de abertura para os contos do TerrorZine. Através do Nexus RPG encontrei esta interessante reunião de curtos escritos em formado pdf, que você pode ler clicando aqui. Nas últimas páginas do arquivo encontram-se várias informações interessantes.

Quando eles chegaram ali pela primeira vez, a terra ainda era selvagem. O solo estava no cio e logo eles começaram a plantar. Derrubavam árvores, aravam a terra, pastoreavam o gado. Logo os primeiros sinais da ocupação estavam sendo edificados: Casebres rústicos de madeira. Cinco, dez, vinte, trinta e cinco. Eram todos miseravelmente ocupados com o labor: A felicidade era se ocupar e não pensar na desgraça.

Já estavam cultivando o próprio sustento, longe da espada tirana do senhor daquelas terras, quando os primeiros pássaros vieram furtar o fruto do suor diário. Para espantar os covardes animais, ergueram uma figura humana feita dos farrapos das roupas dos próprios aldeões e de feno para o enchimento. Olhando para o vilarejo, no topo de uma pequena colina, lá estava ele, solitário.

Era manhã alta. O primeiro a ver foi um garoto que brincava com amigos em uma região mais afastada. Logo os adultos, suados pelo trabalho da plantação, viram aquela nuvem de poeira já um tanto próxima. Tentaram correr, tentaram se esconder, mas um grande grupo de assassinos montados em cavalos começou a incendiar e saquear o povoado. Dos que estavam ali, uma grande parte tentou fugir para o que restara do bosque original, quando a natureza era solitária. Correram atravessando a colina com todas a gana que um homem pode ter quando percebe sua vida sendo caçada como um animal selvagem, mas os cavalos eram mais velozes. O sangue jorrou e alimentou o centeio, tingindo-o de vermelho vivo. O cheiro do massacre era forte, tendo como testemunha o espantalho. Ele viu as casas arderem durante o entardecer, viu os estupros, os assassinatos, o saque.

Pela manhã só restavam cinzas e corpos. Rasgando o cinza, uma ave negra pousara em um dos cadáveres espalhados pelo campo, ignorando o espantalho. Uma bicada, duas, três. Devorava a carne humana com seu bico frenético. Quando ia bicar outra vez, foi agarrado por alguma coisa e teve seu gralhado abafado por uma mão macia e ruidosa. Ele acordara.

Do alto da colina, com um corvo morto em sua mão, o espantalho absorvera o sangue e a alma daqueles homens que tiveram suas vidas ceifadas pelos assassinos. O ódio e o amor o animara, e agora ele seria o guardião dos sobreviventes.

A melodia suave e precisamente desestressante de um despertador preenchia um ambiente até então morto. Os olhos abriram preguiçosos mirando um teto ainda acinzentado que possuía uma lâmpada branca queimada, nua, sem nenhum adorno ou disfarce. Ele desligou rapidamente o aparelho que o acordara, mesmo sonolento, com uma precisão treinada. Após alguns segundos, o seu corpo masculino nu levantou-se da cama. Ainda era musculoso, embora seu auge já tivesse passado. A luz pálida que vinha de fora, atravessando uma grande janela de vidro, suja, do lado esquerdo da cama, denunciava mais um dia nublado, como todos desta última semana foram.

Vestiu um calção verde amarrotado enquanto sentia a fome de quem não havia jantado bem na noite anterior. Num banheiro extremamente masculino e desleixado, com pedaços de pasta de dente azulada endurecida espalhados e algumas roupas sujas jogadas embaixo da pia de aço, pressionara o interruptor brilhante da parede para iluminar o ambiente. Uma intensa luz branca acendeu-se acima de um espelho ovalado e no mesmo instante surgiu um rosto masculino sendo refletido. Era branco, embora não pálido, com cabelos escuros lisos querendo ultrapassar os olhos. Uma barba por fazer denunciava a razoável negligência de seu dono. Possuía algumas rugas, especialmente pés-de-galinha. Seguindo estas marcas, chegava-se em um olho semi-cerrado, de um azul profundo. Abriu a torneira da água quente com a mão enquanto fixava o olhar na escuridão da sua pupila, imerso em pensamentos.

Enrolado em uma toalha roxa e já banhado, estava agora deitado em sua desarrumada cama de casal, sozinho. A luz aumentara de intensidade nessa hora decorrida, e com isso a movimentação das pessoas daquela cidade também. Mesmo estando um apartamento nos subúrbios, sabia que se abrisse aquela janela de vidro, ouviria o som de antigos automóveis movidos à gasolina, bem como buzinas e sirenes.

Ainda nu, abandonara a toalha na cama, como havia feito com mulheres algumas vezes nesses últimos meses. Ele não se importava porque elas não se importavam, já que havia dado o que elas queriam antes. Fazia barulho, remexendo muitos talheres em uma gaveta de um móvel acomodado de forma eficiente numa pequena cozinha predominantemente branca. Encontrara o abridor de latas e logo sentia prazer ao destruir a embalagem da carne enlatada. Pegou um pão congelado, cortou-o e despejou aquela pasta vermelha com caroços brancos. Era sintética, ele sabia, e além de alimentá-lo naquele momento, provavelmente estaria alimentando também um futuro câncer. “Foda-se” pensou.

Vestiu um jeans cinza, já meio desbotado, com certa dificuldade. Depois, colocou uma camisa simples de algodão na cor vermelha, e finalmente um par do último modelo de tênis da Nike, desses que mostram o quão brutal é o capitalismo. “Não comprei mesmo.”,  pensou em silêncio. Ainda no quarto, olhou para uma pequena mesa de madeira escura que ficava próxima à frente da cama. Havia um cinzeiro de porcelana branca com várias munições de pequeno calibre espalhada. Sentiu preguiça, mas colocou uma a uma no pente da sua pistola .45 que estava em uma das gavetas destrancadas da mesa, com a simples chave de ferro cru já na fechadura. Antes de sair, tomou uma dose de uísque Red Label. Ele imaginava que, sendo tão barato, deveria ter sido contrabandeado e falsificado. Mas já não se importava mais.

Pegou a velha chave de seu carro, sua leve carteira, o celular desgastado, uma pistola ilegal e saiu. Era hora de lutar pela sobrevivência.

Halfling Alice”
por Silbernebeltkaze
do Deviantart

 

“E nesse momento desejei pela primeira vez ter um companheiro de aventuras, pois a sabedoria do meu povo tem uma famosa frase para viajantes:

“Não leve seu companheiro pelo ouro,
Mas para que os famintos não comam seu couro!”

Espreitei pela fresta, para ver se na noite eu poderia ver algo, a noite gelava meu corpo, e eu ainda não estava seco. Após ver a posição da fogueira, respirei fundo e saí da caverna, tomando precauções de não fazer barulho. Encaminhei-me lentamente por entre as pedras. O rio caudaloso e profundo me auxiliava a passar despercebido, pois provavelmente minhas botas ainda molhadas poderiam me entregar caso eu pisasse descuidadamente emitindo o seu “chap, chap” para os ouvidos da provável tribo selvagem em volta da fogueira. Acomodei-me próximo a uma pedra que me cobria por inteiro. Sentei e procurei ouvir o que eles falavam com o intuito de reconhecer qual das tribos era. O frio estava me fazendo tremer, o vento estava gélido demais. Meu queixo tremia de frio e nada pior poderia me ocorrer do que ocorreu naquele momento. Existem momentos em nossa vida onde você sabe o que vai ocorrer, sabe as conseqüências daquilo, mas não pode evitar de maneira alguma, você vê perante os seus olhos o que vai lhe acontecer e você não tem mãos para desviar o curso de tal destino. Em minha vida, em especial naquele dia, eu já havia tido muitos deles, você não imagina o que se passou na minha cabeça quando caí rolando de Patas Fortes para a garganta da montanha, ou imagina? Entretanto, acredite ou não, não fiquei com tanto medo quanto naquele momento. Eu simplesmente não podia controlar minha vontade de…”

por Diego Cavaleiro: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=9517470466449647414

Para ler o conto todo, você pode baixá-lo em PDF no Ié Ié Ié Quatro Queijos
Link para a comunidade do Orkut: Orkut

[Update 04/09/07] Modificado marcador para “Histórias e Contos”

O barulho da lenha queimando na lareira competia com os sussurros de um monólogo do homem. O tapete de urso pardo que ali estava já fora testemunha de muitos acontecidos importantes, pois a aconchegante sala de pedra verde-escura decorada com pinturas de caçadas era a preferida da figura com cabelos castanhos e cavanhaque que estava naquele momento olhando o fogo dançar, sentado em uma confortável poltrona. Na casa dos quarenta anos – ninguém sabia ao certo – vivia sozinho naquela grande casa. O sozinho dele, é claro, não incluía nenhum dos servos que prestavam serviço ali. “Mal paridos.” era o que dizia a respeito.
Duas secas batidas na porta de madeira e um homem de já certa idade maior, presumivelmente um mordomo, diz:
– Senhor Edwards, desculpe interrompê-lo mas um plebeu suplica por sua ajuda do lado de fora.
– O que ele quer? – Responde o homem que ainda fita a lareira de uma maneira um tanto desinteressada.
– A filha dele sumiu há um dia e o grupo de busca da aldeia não encontrou nem sinal dela na floresta. Me parece que ele pedirá vossa… ajuda. – Respondeu de maneira reticente o mordomo.
– Mande-o entrar e traga aquela bebida francesa. Um copo de madeira para ele, e o meu de sempre.
O serviçal virou-se e saiu. Enquanto seus passos podiam ser ouvidos vagamente através da porta de madeira, Edwards jogava mais lenha na lareira. O quadro de cães ferozes atacando covardamente uma raposa pareceu excepcionalmente sinistro com a iluminação oscilante da madeira, como se uma faísca de monstruosidade pudesse ser observada nos olhos dos animais naquela batalha sangrenta.
Passados alguns minutos, as duas batidas secas na porta novamente foram ouvidas e o mordomo entrou acompanhado de um homem de vestes pobres.
– Senhor Edwards, este é o Thomas. Qualquer coisa é só chamar, como sempre. – E após proferir a última palavra, saiu novamente da sala e fechou a porta sem fazer ruído. O costume com o passar dos anos ensinara muitos truques de etiqueta.
Thomas, visivelmente transtornado pelo desaparecimento da filha e intimidado pela presença de Edwards, ficou de pé nos minutos de silêncio que se seguiram nos quais o nobre examinou minuciosamente sua garrafa francesa. Tremendo levemente, por mais de uma vez tentou proferir alguma palavra, mas hesitou e formou fonemas abortados.
– Sente-se. – Disse Edwards enquanto apontou com a mão para uma cadeira menos ornamentada: a dos convidados. Assim que o pobre aldeão se sentou, logo continuou:
– Quando ela desapareceu?
– Ontem pela tarde senhor! – Respondeu nervosamente o homem.
– Você acha que ela está na floresta? – Perguntou Edwards enquanto preenchia a taça de cristal e o copo rústico com a bebida escura.
– Senhor, acho sim senhor. – Uma gota de suor escorreu a testa enrugada de Thomas quando ele fez um leve movimento positivo com a cabeça.
– Qual era o nome e a idade dela? – Virou de uma vez o copo e olhou nos olhos velhos e cansados do plebeu.
– É Mary, tem nove anos! – Thomas deu uma ênfase no tempo verbal da frase. – É uma linda menina loira de cabe… –
– Posso mandar meus homens realizarem uma busca nas florestas quando o dia chegar. É um trabalho dispendioso, mas salvar uma criança é o mínimo que eu devo fazer pelo Nosso Senhor e para vocês da aldeia. Tens fome? – Interrompeu o nobre com uma pergunta.
– Não senhor, já estou muito agradecido pelo ato de bondade que o senhor fez por mim! – E com as lágrimas nos olhos esboçou um sorriso tremido nos lábios rachados e escuros.
– Bem, ao menos beba um pouco comigo homem! – E deu um copo de madeira para Thomas, que prontamente o virou e tentou esconder a estranheza do gosto da bebida.
– Nunca bebeste vinho!? – Edwards disse rindo. – Tudo bem, não o culpo. Agora vá e durma tranqüilo, amanhã meus homens encontrarão tua filha e tudo estará sanado. – E fez um gesto para que o homem saísse.
O plebeu se levantou e foi embora. Já sozinho naquela sala de pedra verde-escura do antigo solar, Edwards fez uma última constatação naquela noite.
– Muito doce, talvez fosse nova demais pro meu gosto… – e enquanto dava um discreto sorriso sarcástico, fitou com a luz da lareira o vermelho-escuro dos resquícios da bebida na taça de cristal.

[Update 04/09/07] Modificado marcador para “Histórias e Contos”

Uma lenda fala que durante o reinado de Saladino, nas conturbada época das cruzadas, o temor de um eventual ataque dos fedayeen, assassinos muçulmanos ultra-religiosos que matavam os cruzados e aqueles que não concordavam com seus termos político, cresceu entre os sábios do rei. Após uma reunião para discutir o tema em Damasco, os conselheiros alertaram para o risco crescente que se aproximava e, sem muitas alternativas, Saladino aceitou.

Os mais fortes e vigorosos jovens filhos de generais receberam então um puxadíssimo treinamento, no qual tinham seu senso moral profundamento enraizado no Alcorão e aprendiam a dar sua própria vida em troca da segurança de Saladino. Na conclusão do treinamento recebiam dos sábios conselheiros algo que lhes tornariam famosos no círculos dos poucos que conheciam sua existência: cimitarras de prata com inscrições do alcorão em suas lâminas. Por isto a guarda pessoal foi denominada Guerreiros da Prata de Alá. A história destas espadas não é totalmente conhecida, mas pelo pouco que se sabe os que empunhavam eram possuídos por um zelo fervoroso pela proteção de Saladino e que apesar de ser uma arma feita de prata, possuia uma lâmina mais afiada e perigosa que as feitas de próprio aço. Segundo relatos de soldados de Balduíno VI de Jerusalém, as armas “dançavam em chamas nas mãos dos infiéis quando banhadas pela luz do sol”.

A eficiência da guarda ficou constatada em 1176, quando os fedayeen tiveram sua tentativa de assassinato frustrada durante um cerco montado por Saladino contra a cidade de Alepo. Depois da morte de seu líder, os Guerreiros da Prata de Alá se dissolveram através do tempo e hoje nada se sabe sobre o seu fim nem do paradeiro das armas.

Castigadoras de Alá
Cimitarras de prata alquímica +3
Encantamentos: Afiada, Axiomática, Explosão Flamejante [Axiomatic, Flaming Burst, Keen]
Notas: Os encantamentos só funcionam quando o portador é Lawful/Neutral e durante o horário do dia.

[Update 04/09/07] Modificado marcador para “Histórias e Contos”

Dizem que homens desesperados são os responsáveis pelas maiores tragédias da humanidade. Talvez seja verdade para o seguinte caso que ocorreu décadas atrás em uma terra distante, onde dois reinos travavam uma guerra tão longa que já haviam homens adultos que nunca haviam visto tempos de paz. O motivo ninguém sabe até hoje. Falo do real motivo, daquele que foi responsável pela fagulha que incendiou campos e que despertou a sede de sangue nos homens. Alguns dizem que foi uma disputa diplomática por terras reclamadas por ambos os reinos há séculos e que agora tinha se explodido em violentos confrontos; outros dizem que haviam descoberto uma catacumba em um dos reinos, e que nesta catacumba encontraram informações de que na terra reclamada havia um tesouro de gerações de monarcas.

Em um certo dia, o chão dos campos floridos banhados pelo sol vespertino e nutridos pelo sangue humano das batalhas tremeu. Tremeu com uma intensidade tal que fendas se abriram enquanto árvores eram tragadas para debaixo do solo. Os animais que ali viviam ficaram tão assustados que alguns morreram literalmente de medo, enquanto outros fugiram em disparada e não voltaram ao local pelos meses seguintes. “Ira dos deuses sobre nós!” disseram alguns. Não entendo um deus que tenta castigar os homens abalando antigos campos de batalha, talvez seja como pintar um quadro com pinceladas esparsas. Ambos os reis enviaram expedições ao local com o intuito de estudar a natureza do fenômeno. Evidentemente, uma delas chegou antes da outra e montou acampamento. A diferença foi de alguns dias, mas o que parece pouco se tornou a primeira moeda que sustenta uma pilha: Aquela que no futuro se tornaria a base de tudo. Encontraram neste tempo uma caverna entre as fendas. Surpresos pela inimaginável descoberta, adentraram nela e lá recolheram um grande lingote negro. Refletia pouquíssima luz, era pesado como ferro e quente como carne de mulher. Mais intrigados ainda, levaram o lingote misterioso para a capital do reino, para que o próprio rei e seus sábios pudessem ver com os próprios olhos a peça do enigmático terremoto.
Após algumas semanas de viagem a expedição chegara à cidade, e mesmo maltrapilha e cansada, logo entregaram o lingote. Vontades da realeza eram motivo suficiente para temer um castigo em caso de ataques de loucura, sabiam alguns. O rei e seus sábios estudaram então a peça por uma semana, e após muitas discussões sobre a natureza do lingote, decidiram que era um presente dos deuses para que o primeiro reino que a tomasse forjasse uma arma que seria capaz de aniquilar exércitos inteiros.

Estava decidido que o melhor cuteleiro do reino, Axel, o Negro, deveria forjar uma espada com as melhores ferramentas que pudessem arranjar e que ele deveria utilizar o estranho material que havia sido encontrado pela expedição. Concordaram também que o general do reino em idade viril, Alexander Andorssa, iria empunhar a arma no campo de batalha e decidir de uma vez por todas a guerra. Ambos aceitaram orgulhosamente os cargos designados, ambiciosos por crescer em influência e poder. Enquanto o mês passava, o general ávido por subir socialmente visitava frequentemente o negro Axel e sua forja. Conhecido por ser supersticioso, creio eu que Alexander pediu para utilizar o sangue dele mesmo e de cinco dos seus mais próximos homens para banhar a lâmina incandescente. Se isto é verdade, não há como saber. Apenas sei que quando o mês estava na última semana e o cuteleiro contraiu uma febre que normalmente o deixaria acamado. Mesmo doente, continuou trabalhando dia e noite num ritmo frenético, cego pela necessidade do espírito em concluir a tarefa. Assim foram estes dias, até que a espada ficou pronta. Axel porém estava tão fraco que a primeira coisa que fez após embainhar a arma foi se deitar e fechar os olhos. Seu rosto suado nunca mais voltou a se mexer.

Exatamente uma semana depois da finalização, o reino de Ataran encarregou o general Alexander Andorssa como portador da Lâmina de Ataran. A grande festa que houve depois foi bela como o fogo que arde na fogueira. Um belo espetáculo antes das cinzas sem vida. Nobres bailavam no palácio ao som de intricadas valsas com suas ornamentadas vestimentas, enquanto o povo dançava e cantava nas praças com uma vontade regada a álcool. Treze dias depois, Alexander e seus homens, junto com o exército real, investiram contra uma cidadela capturada pelo reino inimigo anos atrás. Obtiveram uma fácil vitória, e depois outra, e outra, e outra…

A guerra havia sido vencida. O reino vizinho fora anexado, os nobres inimigos foram assassinados e apenas um comandava todos: Alexander Andorssa. Alguns anos após desde que liderara a vitória da guerra, o ex-general e agora rei organizou uma revolta que resultou na deposição e morte dos nobres Ataran e de seus aliados. Ele, e apenas ele, reinava absoluto em um trono frio. Seus amigos mais próximos, os Cinco, se tornaram os arqui-duques que reprimiam movimentos contra a realeza. Os seis, Alexander e seus homens, com o passar dos anos ficaram cada vez mais frios e cruéis. Ficaram mais pálidos, com cabelos grisalhos antes da hora e com profundas olheiras. Seus olhos continham uma escuridão misteriosa e suas vozes ressoavam em raiva. No período em que reinaram ficou conhecido como Os Anos Negros.

Algum tempo depois os sábios começaram a falar de um evento astrológico que significaria uma grande passagem na existência da humanidade: um eclipse. O rei Alexander chamou seus arqui-duques numa noite de lua nova e expulsou todos os criados da sala. Lá conversaram algo que nem mesmo os treinados ouvidos das serviçais puderam escutar, se é que conversaram alguma coisa. Um dia fez-se saber que o rei havia falecido de tuberculose e que seus arqui-duques haviam sidos executados como traidores pelos outros nobres. Desde este dia nunca mais se ouviu falar nos Seis. O que eu posso dizer, meu caro? Lendas contam que avistaram o rei e os arqui-duques cavalgando durante o eclipse naquelas terras outroras castigadas por um terremoto, brandindo a espada de lâmina negra enquanto eram engolidos por uma névoa e gritavam de felicidade…

Andorssa, A Espada Negra
Espada Longa +3 Profana “Hematófaga” (Unholy Bloodfeeding) feita de thinaun
Complete Warrior: Thinaun pg 136
Magic Item Compendium: Bloodfeeding pg 29

Int: 13
Sab: 10
Car: 13
Ego: 10
Visão e escuta em até 60 ft.
Comunicação por empatia.

Poderes menores:
Bless 3/dia
Cure Moderate Wounds (2d8+3) no portador 3/dia