Com a postagem anterior eu me vi inspirado a criar uma aventura para mestrar, já que o restante do meu grupo anda meio disperso. Defini que a dungeon exploraria a temática do frio e seria situada numa montanha, pois estava aproveitando o Lar de Crystallisk. A princípio pensei apenas na masmorra em si, sem levar em consideração quem eram os PJ’s, qual era a motivação do grupo ou se havia algum povoamento urbano próximo. Tudo que eu tinha em mente eram elementos: Montanha, neve, frio.
Comecei a pesquisar mais monstros para fazer uma coisa diferente – afinal de contas, eles já jogaram esse tipo de aventura antes! Lembrei-me dos mephits de gelo, dos gigantes da geada, dos remorhazes e do verme do gelo. Agora, eu tinha que encontrar uma maneira harmoniosa de encaixar esses quatro monstros com o dragão branco e os winterwolves que já habitavam a dungeon. Problemas.
Vi que remorhazes e vermes do gelo não encaixariam bem: O primeiro requeria que o cenário fosse um deserto gelado e isso estava fora dos meus planos, o segundo possui um CR muito alto (12!), o que seria fatal para um combate introdutório. Descartei estas criaturas e optei então por grifos que já vivem nas montanhas da região, assim resolvendo problema da alimentação do dragão.
Reexaminei a dungeon e percebi que eu tinha que lidar agora com o problema dos gigantes. A masmorra era uma caverna semi-trabalhada com três níveis, na ordem: O superior, com o tesouro do dragão e cujo único acesso era pelo (alto) teto do nível térrero; o térreo, com um grande salão e caminho para o terceiro nível; e o subsolo, com um lago congelado – que era o local do confronto. Porra, o gigante do gelo não é um animal que come as próprias fezes! Se ele fosse para um lugar desses iria querer ter o mínimo de conforto e decência. Pensei um pouco mais e decidi adicionar uma parte construída, com salões de pedra talhada e colunas, o que me fez chegar a um novo problema: Onde colocar esta nova seção de maneira coerente?
Ao mesmo tempo, pensei na relação dos gigantes (que na minha cabeça ainda não tinha uma quantidade definida) com o dragão. Quem seria o dominador? O segundo era bestial demais para fazer algo além de caçar e dormir, enquanto que o primeiro não era suficientemente poderoso. Concluí que a melhor decisão seria adicionar um grupo pequeno de gigantes como combate final e que o dragão seria apenas um lacaio deles. Isto me gerou problemas com o andar onde o bicho guardava o tesouro, mas na pior das hipóteses eu simplesmente transformaria aquilo numa simples toca.
Ao escolher a subjugação do dragão, ficou fácil inserir a nova seção de pedra trabalhada no mapa no “final” da dungeon: Além do lago congelado. Eu teria que criar uma explicação sobre aquela construção localizada em um lugar tão ermo e hostil, mas isso ficou para depois. Estava claro que o local de conforto seria dos gigantes, com direito a piras e uma rústica mobília.
Os gigantes morariam ali desde antes do dragão, ou este viera depois deles? Haveria atritos nesta relação? Quem teria edificado aquela estrutura? E os lobos-de-inverno, qual seria seu papel? Anteriormente, os lobos eram lacaios de Crystallisk, atuando como batedores e sentinelas em uma relação mutualista: A caverna ficava sempre guarnecida e não haveria problemas enquanto um não intervir com o outro. Como os gigantes eram agora os novos mestres do local, simplesmente refiz esta ligação e deixei os lobos subordinados aos gigantes.
Pouco-a-pouco, um rascunho de história se formava na minha mente. Os salões de pedra teriam sido edificados por uma raça antiga e subterrânea que, pelo acaso, encontrou a montanha e algo que não queria ver. Drows? Anões? Os enormes corredores, que formam na verdade um portão fortificado, levariam mais adiante para algum lugar que ainda não pensei. E também pouco importa. Tudo estaria deserto, mas haveriam os silenciosos e eternos vigias: Golens de pedra.
Subitamente, vi a imagem de três gigantes do gelo viajando pelo horizonte nevado acompanhados de uma matilha de lobos-do-inverno domesticados, ou o mais próximo que se consegue disso. Eles estariam em busca destas ruínas? Eles não costumam ser inteligentes, então resolvi que um deles seria excepcional: Um mago em busca de conhecimento. Isto facilitaria a subjugação do dragão e daria mais verossimilhança às escavações na pedra.
O que eles comeriam? Os lobos não poderiam caçar em um ritmo tão rápido para alimentar uma matilha inteira e três gigantes juntos. Para escavar pensei em goblinóides, goblins e hobgoblins, e isso seria a fonte de alimentação dos monstros quadrúpedes. Os gigantes comeriam, é claro, apenas a fina caça que a matilha recolheria. Os escravos serviriam até para outra coisa: Alimentar o clima de mistério quando o grupo visse vários corpos deles congelados pela neve, em direção à montanha.
Para finalizar, tenho que primeiro falar sobre os mephits. Eles simplesmente seriam apenas escravos do mago, que os aprisionou de alguma forma, como se faz com extraplanares, e assim me livram de maiores explicações. O dragão continua mantendo seu tesouro na câmara superior, que é protegida tanto dos lobos, como dos goblinóides e dos gigantes. Os mephits não entrariam lá porque a morte certa é sabida.
Presto! Agora eu tenho uma dungeon completa. Uma boa trama inicial e não-tão-superficial, variados desafios. Assim, o roteiro da aventura é o seguinte:
- Aproximação da montanha e percepção dos cadáveres de goblinóides congelados. Confronto com os grifos.
- Entrada no primeiro salão da dungeon. Confronto com os lobos-de-inverno.
- Descida até o subterrâneo. Confronto com o dragão em estreita ponte de madeira sobre lago congelado. A ponte quebrará e os PJ’s cairão no gelo.
- Início do portão reforçado de pedra. Confronto com os lobos-de-inverno restante e mephits do gelo. Fuga em massa dos escravos goblinóides para o interior do caminho – o que ativará os golens de pedra.
- Confronto com os três gigantes de gelo – irados pela destruição da expedição.